Para quem acredita em energia, ver um pátio cheio de veículos retorcidos, onde vidas foram perdidas é uma imagem triste e pesada. É possível imaginar os últimos instantes dentro desses carros. Conversas animadas, brincadeiras, expectativas, sonhos, esperança foram substituídos em frações de segundo por desespero, terror, angústia e dor profunda. Tudo interrompido brutalmente por acidentes com causas diversas que vão desde excesso de velocidade, passam pela imprudência, uso do celular ao volante, cansaço, distração e chegam ao consumo de álcool e drogas. Enfim, por situações que poderiam ser perfeitamente evitadas.
Embora os corpos das vítimas de um mesmo acidente sejam enterrados em locais distintos a pedido das famílias, a verdade é que a intensidade dos últimos momentos da vida de cada uma delas está presente nesses carros, caminhões, motos e ônibus, retorcidos pelo impacto e pela dor. O cemitério de veículos tem mais dor acumulada que o cemitério dos homens. Não há morte natural no acidente, apenas a inesperada viagem para outro plano. Não planejada, nem desejada, apenas ocorrida.
Infelizmente, olhamos para as estatísticas de acidentes assim como olhamos para os carros retorcidos. Conseguimos ver os números, a lataria amassada, os bancos retorcidos e as peças quebradas. Mas não percebemos a dor, o drama, a tristeza e a morte que esses mesmos veículos carregam. Quem sabe um dia a sociedade brasileira entenda que saímos da pista do bom senso, perdemos a noção do perigo injustificado e esquecemos o valor das vidas humanas. Os acidentes nas estradas e ruas não são obras do acaso, mas do nosso descaso.
É curioso e triste que são justamente através dos dados de um seguro que protege as vítimas e seus familiares, como é o DPVAT, que podemos quantificar o tamanho da tragédia que nossos olhos parecem não querer ver.
Embora o papel das autoridades seja sempre fundamental para combater essa chacina sobre rodas, a verdade é que a engrenagem do trânsito é feita de gente, de seres humanos, e nós somos senhores do nosso destino. Somos nós que controlamos o volante e que podemos definir onde vamos chegar. Infelizmente, estamos viajando muito mais na direção do cemitério dos carros do que para o horizonte da vida. Mas podemos mudar a direção. Só depende de nós!
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