terça-feira, 3 de maio de 2016

Existe mais dor em cemitérios de veículos do que em cemitério de homens

Para quem acredita em energia, ver um pátio cheio de veículos retorcidos, onde vidas foram perdidas é uma imagem triste e pesada. É possível imaginar os últimos instantes dentro desses carros. Conversas animadas, brincadeiras, expectativas, sonhos, esperança foram substituídos em frações de segundo por desespero, terror, angústia e dor profunda. Tudo interrompido brutalmente por acidentes com causas diversas que vão desde excesso de velocidade, passam pela imprudência, uso do celular ao volante, cansaço, distração e chegam ao consumo de álcool e drogas. Enfim, por situações que poderiam ser perfeitamente evitadas.
Embora os corpos das vítimas de um mesmo acidente sejam enterrados em locais distintos a pedido das famílias, a verdade é que a intensidade dos últimos momentos da vida de cada uma delas está presente nesses carros, caminhões, motos e ônibus, retorcidos pelo impacto e pela dor. O cemitério de veículos tem mais dor acumulada que o cemitério dos homens. Não há morte natural no acidente, apenas a inesperada viagem para outro plano. Não planejada, nem desejada, apenas ocorrida.
Infelizmente, olhamos para as estatísticas de acidentes assim como olhamos para os carros retorcidos. Conseguimos ver os números, a lataria amassada, os bancos retorcidos e as peças quebradas. Mas não percebemos a dor, o drama, a tristeza e a morte que esses mesmos veículos carregam. Quem sabe um dia a sociedade brasileira entenda que saímos da pista do bom senso, perdemos a noção do perigo injustificado e esquecemos o valor das vidas humanas. Os acidentes nas estradas e ruas não são obras do acaso, mas do nosso descaso.
É curioso e triste que são justamente através dos dados de um seguro que protege as vítimas e seus familiares, como é o DPVAT, que podemos quantificar o tamanho da tragédia que nossos olhos parecem não querer ver.
Embora o papel das autoridades seja sempre fundamental para combater essa chacina sobre rodas, a verdade é que a engrenagem do trânsito é feita de gente, de seres humanos, e nós somos senhores do nosso destino. Somos nós que controlamos o volante e que podemos definir onde vamos chegar. Infelizmente, estamos viajando muito mais na direção do cemitério dos carros do que para o horizonte da vida. Mas podemos mudar a direção. Só depende de nós!